No Brasil, se você quiser um plano de saúde local que permita acesso ao Sírio-Libanês, Albert Einstein ou Vila Nova Star, dificilmente conseguirá isso através de um plano individual.
Os planos individuais locais praticamente desapareceram da prateleira premium.
O sistema passou a empurrar o consumidor para duas alternativas: planos por adesão ou planos empresariais, muitas vezes construídos sobre bases artificiais.
Na prática, o país não oferece um plano de saúde.
Oferece apenas um plano de acesso.
- Coletivo por adesão (associações de classe)
Advogados, médicos, engenheiros e outras categorias ingressam via administradoras como a Qualicorp. Embora legítimo em sua forma, esse modelo opera com reajustes livres, rescisão coletiva possível e volatilidade de rede — o hospital que hoje está incluído pode estar de fora amanhã.
O movimento mais recente é prova disso.
A SulAmérica comunicou oficialmente a retirada do Hospital Israelita Albert Einstein da Rede de seus planos por adesão.
É um marco que expõe a fragilidade desse modelo: aquilo que parecia “premium” deixa de existir de um ano para o outro.
Além disso, muitos desses planos já não garantiam acesso pleno à rede de excelência, entregando apenas fragmentos do que o cliente realmente busca.
- Coletivo empresarial (através da Pessoa Jurídica)
Para quem não se enquadra em associações, o caminho se tornou abrir uma empresa.
Quando essa empresa não possui atividade real, surge o arranjo amplamente difundido: um plano familiar contratado via CNPJ apenas para acessar a rede premium.
O vínculo empresarial é apenas formal; quem usa o plano é a família.
É um mecanismo criado para contornar a ausência de planos individuais sólidos com cobertura hospitalar de ponta.
Não é proteção contínua.
É acesso condicionado, até segunda ordem.
Instabilidade estrutural
Seja por adesão ou por um plano empresarial com base frágil, o resultado é semelhante:
- reajustes livres;
- possibilidade de rescisão unilateral;
- rede hospitalar instável;
- elegibilidade questionável;
- risco jurídico em estruturas sem atividade real.
O cliente acredita ter contratado um seguro de saúde, mas recebe apenas acesso temporário, sujeito a mudanças unilaterais. Paga por proteção, recebe conveniência.
O mito do “plano premium”
O que o mercado chama de plano premium no Brasil é, na essência, um plano de entrada.
Não é um seguro de saúde é uma autorização de uso.
Seguro verdadeiro é continuidade, previsibilidade e confiança.
O modelo brasileiro transformou isso em algo volátil, sujeito a ajustes, exclusões e remendos.
O contraste com mercados maduros
Em Londres, Nova York e Zurique, o indivíduo contrata planos individuais sólidos, com livre escolha de médicos e hospitais e estrutura técnica robusta.
Não precisa fingir ser empresa.
Não depende de associação.
Não vive sob risco constante de alteração repentina de rede.
Lá, a lógica é simples:
“Se eu pago, eu escolho.”
Aqui, a lógica é distorcida:
“Se eu quero escolher, preciso me encaixar em um coletivo.”
Entre o acesso e a proteção
Enquanto o mercado insistir em confundir plano de saúde com plano de acesso,
e enquanto famílias dependerem de arranjos coletivos instáveis ou de CNPJs artificiais,
continuaremos reféns de um sistema que premia o artifício e pune a autonomia.
O debate que importa não é preço.
É legitimidade, estabilidade e proteção real.
Até que isso mude, seguiremos chamando de “plano de saúde” aquilo que, no fundo, entrega apenas acesso e não segurança.
Por Luiz Eduardo Halembeck
Sócio | Halembeck Seguros | Experts Lab
Curadoria em Seguros para Clientes de Alta Renda