*Por Luiz Eduardo Halembeck.
Em quase três décadas atuando na interseção entre seguros e planejamento patrimonial, vi muitas estratégias complexas, porém com falhas ao não incluir um ponto muito importante: o plano de saúde.
Caso Real: Quando a Saúde Vira uma “Bomba Relógio Patrimonial”
Imagine esta cena: um empresário, um alto executivo ou profissional liberal de sucesso com um patrimônio milionário cuidadosamente planejado, descobre que seu plano de saúde será descontinuado em sua saída da empresa aos 65 ou 70 anos, justamente quando ele mais precisa. Sem cobertura, uma doença grave força a venda de ativos valiosos a preços baixos, destruindo décadas de estratégia patrimonial. Essa história é mais comum do que você imagina, e o culpado tem nome: “a falta de planejamento”.
Armadilha invisível: O que Ninguém lhe Conta
Mais precisamente, os planos PME, criados para empresas, mas amplamente utilizados por famílias de alta renda como uma aparente solução de acesso médico privado. Hoje, esse modelo requer cautela para evitar uma armadilha silenciosa, que ameaça sucessões, compromete holdings familiares e desafia o planejamento financeiro de gerações.
Riscos que Podem Arruinar Seu Planejamento
O plano PME propõe uma ideia que requer atenção: acesso à saúde premium com custo reduzido, via CNPJ. O que não fica transparente é que esse tipo de contrato apresenta instabilidades. Pode ser cancelado unilateralmente pela operadora, não garante cobertura após mudanças societárias ou falecimento de sócios, aprisiona gerações no contrato e está sujeito a altos reajustes, especialmente após os 59 anos, justamente quando mais se precisa dele.
Outra vulnerabilidade: há riscos fiscais, previdenciários e jurídicos reais quando esses contratos são vinculados a holdings, sociedades profissionais ou empresas operacionais. Estamos falando de possíveis autuações por distribuição disfarçada de lucros, glosa de despesas médicas, perda abrupta de cobertura para cônjuges e herdeiros e aumento expressivo para os colaboradores de uma empresa devido a gastos elevados dos acionistas.
Tudo isso em meio a um ambiente de retração severa do mercado de saúde com indisponibilidade de planos individuais para pessoas de alta renda, restrições por idade e histórico de saúde, aumento da sinistralidade, inflação médica acima de 15% ao ano e uma escalada de burocracia visando inibir as fraudes disfarçada de “compliance”.
O mercado financeiro ainda ignora o risco
Infelizmente esse risco segue fora do radar da maioria dos family offices, private bankers e wealth planners. Vejo apresentações patrimoniais robustas que calculam o impacto de flutuações cambiais ou eventos geopolíticos, mas que ignoraram o custo de um tratamento oncológico negado devido a uma saída forçada de um plano por idade ou mudanças societárias.
Essas omissões podem custar milhões. É frequente famílias liquidando ativos para arcar com despesas médicas inesperadas, em momentos vulneráveis. Isso não é apenas um problema técnico. É um sério ponto de atenção que vem sendo ignorado.
A Tese: Seguro Saúde como instrumento de Hedge Patrimonial
Foi por isso que criamos no Experts Lab, Hub de inteligência em seguros da Halembeck Seguros, a Tese Health & Wealth. Ela parte de uma premissa simples: o risco de saúde precisa ser gerido como qualquer outro ativo ou passivo relevante.
A resposta está em transferir o risco para estruturas individuais por adesão via associações de classe ou para o mercado IPMI (Internacional) no caso de expatriados, famílias com dupla cidadania, com estruturas fiscais no exterior, imóveis fora do Brasil ou viajantes frequentes, oferecendo cobertura ampla, global e vitalícia independente de vínculos societários.
Não estamos falando de produto. Estamos falando de governança patrimonial aplicada à saúde, o que inclui medicina de excelência e proteção do caixa via hedge de liquidez para situações críticas.
Conclusão
A mudança de mindset é necessária no item seguro saúde, diferente de uma despesa ou benefício acessório. No Brasil, saúde é risco sistêmico e mal planejada é risco patrimonial.
O mercado financeiro e formadores de opinião têm um papel fundamental em trazer esse tema à tona. Não como pauta de produto, mas como assunto estratégico, técnico e necessário.
Se os ativos estão protegidos mas a saúde do patriarca está exposta, o planejamento está incompleto. E onde há lacuna, há risco. Onde há risco, é onde devemos estar.
* Luiz Eduardo Halembeck é especialista em proteção patrimonial via seguros, com 30 anos de experiência. Já orientou inúmeras famílias a evitar perdas representativas por falhas no planejamento de saúde.